A 11ª edição do Congresso Brasileiro de História da Educação ocorrerá sob um clima bastante desafiador para os pesquisadores da área. Os setores mais reacionários da nossa sociedade encontraram no campo da educação seus alvos prediletos. Instituições construídas ao longo de décadas pela atuação insistente de vários intelectuais – tais como Capes, CNPq, Inep e o próprio MEC - vêm sendo rapidamente sucateadas, explicitando um sistemático projeto de desmonte, cuja voracidade, no entanto, está também direcionada contra outras formas de conhecimento, além da denominada “educação formal”: constituem a dimensão simbólica do ataque a populações historicamente discriminadas, tais como índios, afro-descendentes e LGBTQIs, escolhidos como entraves a um suposto desenvolvimento econômico e social, numa operação muito similar aos regimes totalitários de nosso passado recente. A situação se tornou ainda mais grave a partir de março de 2020, quando a pandemia do coronavírus foi agravada em solo brasileiro pela omissão e leniência do atual governo, que insiste em um discurso irracional e negacionista para justificar suas ações que causaram a morte de centenas de milhares de pessoas.
Essa situação faz recordar que a PUC-SP tem, em sua história, momentos emblemáticos. Em julho 1977, em plena Ditadura Civil-Militar, a universidade sediou a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que havia sido proibida de ocorrer nas universidades públicas, além de se constituir como um dos espaços de reorganização do movimento estudantil. Essa atuação custou a invasão e depredação de suas dependências, prisão de centenas de estudantes e professores e, posteriormente, um incêndio criminoso que destruiu seu teatro – o TUCA, hoje tombado como patrimônio histórico da cidade de São Paulo. No entanto, a mobilização que se sucedeu a esses episódios foi fundamental para o processo de redemocratização do país. Outro dado importante foi a universidade ter acolhido professores perseguidos devido à sua produção intelectual se opor ao pensamento oficial, tais como Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Maurício Tragtenberg, Paulo Freire, Bento Prado Júnior, Maria Nilde Mascellani, Paul Singer, entre outros.
Dado esse contexto, entendemos que o XI Congresso Brasileiro de História da Educação – Cultura e Educação: memória e resistência, que acontecerá pela primeira vez na cidade de São Paulo em julho de 2022 – exatos 45 anos depois da reunião da SBPC mencionada anteriormente - deve não apenas ser um evento em consonância com a qualidade das edições anteriores, mas que rememora e reforça o que nos identifica como pesquisadores comprometidos com a excelência acadêmica e com a construção de um espaço político de cooperação, solidariedade, justiça social, tolerância, indignação e inspiração para nossas lutas cotidianas. Ou seja, que possamos exercer aquilo que o aforismo gramsciano nos impele, mais uma vez: exercitemos o pessimismo da crítica e o otimismo da ação.
A Comissão Local