Que o cinema se converteu numa forma de conceber e agir sobre a vida moderna, disso não há nenhuma dúvida. Desde que se impôs como um modo de colocar em cena o micro e o macro, o subjetivo e o coletivo, contribuindo, em sentido abrangente, para uma dada configuração da política, o cinema se espraiou no tecido social, riscando todo o planeta, ao mesmo tempo em que suscitou um conjunto igualmente abrangente de reflexões e análises.
Como pensar a produção audiovisual contemporânea? De que maneira a sétima arte vem contribuindo para a emergência de outros imaginários, dando a ver os processos de resistência e de reinvenção de grupos historicamente discriminados? Como dimensionar a produção afro-brasileira nesse âmbito?
O cinema africano constitui-se em uma rica plataforma, impulsionada pelo processo de descolonização na década 1960, compondo um mosaico heterodoxo para se acessar as diversas Áfricas. Nollywood, a indústria cinematográfica da Nigéria, produz mais de 2.500 filmes por ano e está atrás apenas do maior produtor do mundo, Hollywood. No Brasil, temos igualmente uma vasta produção que alcança novos patamares nas últimas décadas, sob os olhares múltiplos e engajados de realizadoras e realizadores das diversas procedências.
O I Ciclo de Cinema Negro da PUC-SP procura, assim, apresentar uma porção desse vasto repertório audiovisual, prestando tributo ao Dia da África, que é celebrado em 25 de maio. O Dia Mundial da África marca a fundação da Organização da Unidade Africana, atualmente denominada União Africana.
Uma vez que o Brasil tem uma relação estreita com África, na verdade somos herdeiros diretos da civilização africana, o I Ciclo de Cinema Negro da PUC-SP tem uma dimensão reparatória, educativa e estética e o papel inescapável de apresentar para a comunidade acadêmica parte fundamental da nossa história, mesmo com as tentativas reiteradas de negação das ancestralidades tidas como indesejadas.
Falar de cinema e de imagem é um passo fundamental para a recomposição das identidades coletivas e individuais que nos constituem enquanto Nação e sociedade.
Equipe Curatorial