Vivemos tempos de emergência climática, ética e civilizatória. O colapso ambiental não é apenas consequência de descuidos ecológicos, mas expressão do modo como o Ocidente se constituiu: expropriando terras, apagando saberes, mercantilizando vidas. Nesse cenário, os povos indígenas aparecem não como vítimas, mas como centelhas de resistência e guardiões de um outro mundo possível.
A crise climática, como apontam Ailton Krenak, Davi Kopenawa e pensadores como Vandana Shiva e Eduardo Viveiros de Castro, é também uma crise de imaginação: esquecemos outras formas de habitar o planeta, e a monocultura do pensamento tornou-se tão perigosa quanto a monocultura da soja. Se queremos futuro, precisamos voltar a escutar os povos que nunca romperam com a Terra.
É nesse ponto que a universidade precisa se reinventar. Como propôs Darcy Ribeiro, a universidade não deve ser um espelho da ordem, mas sua crítica. Ela deve educar para a cidadania, para a dignidade, para o pertencimento. E nesse processo, precisa se colocar ao lado dos povos indígenas não como quem ensina, mas como quem aprende.
A PUC-SP, com sua história de engajamento social e defesa da justiça, tem abraçado esse chamado. Em sua 17ª edição, a Retomada Indígena da PUC-SP chega com o tema: “Resistência, Clima e Educação: O Papel da Universidade nas Lutas Indígenas”. Um tema que não é apenas um mote, mas um chamado à ação, à escuta, à transformação.
Durante a Retomada, os espaços da universidade se descolonizam: a palavra ganha corpo, a memória vira território, e o conhecimento deixa de ser apenas aquele que se escreve em artigos, passando a ser também o que se dança, se canta, se planta e se compartilha em roda. A Retomada é reintegração de posse simbólica, é quando os povos originários reocupam o espaço acadêmico e o redesenham com suas cores, suas lutas e seus futuros.
É nesse solo fértil que brota o Programa Pindorama, criado na PUC-SP há mais de 20 anos, como resposta institucional à urgência de garantir acesso, permanência e protagonismo indígena. Mais do que abrir portas, o Pindorama reconfigura as estruturas internas da universidade: cria redes de apoio, promove encontros de saberes, estimula práticas pedagógicas interculturais e fortalece a presença indígena como parte constitutiva da vida universitária.
O Pindorama ensina que ser universidade é estar em movimento, é acolher a diferença não como exceção, mas como potência. Ele encarna a ideia de universidade necessária, aquela que não teme a pluralidade, mas que a deseja como fundamento ético e político. Ele ecoa a máxima de Krenak: “Não vamos civilizar ninguém, vamos nos reinventar.”
Portanto, quando falamos de resistência, clima e educação, falamos de tudo ao mesmo tempo. Falamos da Terra e dos corpos. Falamos da ciência e do espírito. Falamos de um projeto de futuro que passa, necessariamente, por repensar o papel da universidade. E neste caminho, a PUC-SP reafirma sua missão: ser espaço de luta, de escuta e de transformação, ao lado, com e pelas vozes indígenas.





